Chocolate, kani-kama, cereja enlatada, pipoca de microondas e pão integral. Você sabe o que está comendo?
por Ana Freitas
É um problema contemporâneo: nem sempre você come o que acha que está comendo.
Pão e biscoito integral que não são, digamos, integralmente integrais
Cereja que é feita de chuchu
Carne de siri que é feita de todo o resto que há no mar, menos siri
Manteiga na pipoca do cinema que é, na verdade, óleo de soja e aromatizante artificial
Os
rótulos enganam, os processos de manufatura alimentícia não parecem ser
tão confiáveis quanto nós gostaríamos que fossem e vez ou outra um
escândalo acaba mostrando isso pra gente: lembra
dos mais de 12 países europeus atingidos pelo escândalo envolvendo
venda de carne de cavalo no lugar de carne de vaca no início desse ano? A carne de cavalo no lugar da de boi e vaca, aliás, nem é exclusividade europeia: no início do mês, em Pernambuco, a polícia apreendeu 500 quilos de carne de cavalo que estavam sendo usados para fazer cachorro-quente.
Nos
EUA, a ONG U.S. Pharmacopeial Convention informou, em janeiro deste
ano, que entre os alimentos mais camuflados nos EUA estão o azeite, que é
vendido misturado com óleos mais baratos, o chá, que é diluído com
outras ervas - até grama! - e temperos como páprica e açafrão, que são
adulterados com corantes de alimentos que imitam as cores desses
condimentos.
Ninguém está à salvo: a realidade é que só
dá pra ter certeza do que se está comendo se é você o responsável pela
cadeia de produção da sua comida. E como isso é algo muito raro nesses
tempos, vale lembrar os cinco alimentos que você achou que estivesse
comendo mas, na verdade, não passam de pura engenharia alimentícia.
Chocolate que não é chocolate
As leis brasileiras são claras em relação ao que é um chocolate: para
ser classificado como tal, um produto precisa ter pelo menos 25% de
cacau. Acontece que, de acordo com uma entrevista do presidente da Associação de Turismo de Ilhéus (BA) para o portal UOL na última semana,
um em cada três chocolates no Brasil não concentra essa quantidade de
cacau e, portanto, não pode ser considerado chocolate. Na reportagem,
Lessa estima que praticamente 35% dos chocolates comuns nas prateleiras,
produzidos pelas grandes empresas alimentícias, são doces tipo
chocolate. Segundo com ele, muitos afirmam ter alta porcentagem de
cacau, mas estariam enganando o consumidor, já que não haveria
fiscalização que comprovasse esse tipo de informação do rótulo - e
informar esse número, aliás, nem é obrigatório por lei. Em vez de cacau,
esses doces contém altas quantidades de açúcar e gordura.
Alimentos
integrais são grãos que não passam por um processo de refinamento. Com
as fibras preservadas, eles ajudam a limpar o organismo: mantém os
níveis de colesterol baixos e controlam os picos de insulina no sangue,
aumentando a saciedade e facilitando o emagrecimento. Só que comprar
pães e biscoitos integrais não é tão fácil quanto parece. É que a Anvisa
não estabelece nenhuma regra para a fabricação desses produtos, como
por exemplo uma porcentagem mínima de farinha integral na composição
para que ela possa ser chamado assim. Comece a ler as embalagens com
bastante atenção e você vai reparar que a maioria desses alimentos nas
prateleiras também inclui farinha refinada na composição. Ou seja: na
maioria das vezes, pão integral não é 100% integral. E em alguns casos, a
porcentagem de farinha integral pode chegar a apenas 30%. Para ter
certeza que não está levando gato por lebre, lembre-se dessa dica: o pão
realmente integral tem de 3 a 5 gramas de fibras a cada 50 gramas de
pão. Fique de olho na tabela nutricional.
O
chuchu é o vegetal mais sem personalidade que existe. E a cereja é cara
no mundo tropical. Por isso, confeiteiros e culinaristas muitas vezes
recorrem a um truque culinário que transforma o chuchu em cerejas em
calda. Elas são usadas em bolos e tortas, e você provavelmente já comeu
muito chuchu por cereja nessa vida. Claro que cerejas frescas, daquelas
que a gente só come no Natal (e que são importadas) não fazem parte da
farsa alimentícia. Mas aquela cerejinha que enfeita a fatia de bolo da
padaria da esquina por cima do marshmallow provavelmente é uma farsante.
Carne de siri que é feita de todo o resto que há no mar, menos siri
Ele
é a estrela do restaurante japonês: o kani é o coringa dos sushis mais
sem-graça da bandeja. É usado também em saladas orientais e até como
snack. O kani, como se sabe, é feito de carne de siri processada. Só que
não. Carne de siri de verdade é cara - e o kani que conhecemos
certamente não seria tão abundante assim se esse não fosse o caso. A
principal matéria prima do kani é o surimi, uma massa feita de carnes de
diferentes tipos de pescados e misturada com coisas como amido de
trigo, clara de ovo, açúcar, extrato de algas, extratos aromatizantes de
caranguejo e lagostas, sal, vinho de arroz e até glutamato monossódico,
uma substância difícil de ser metabolizada pelo corpo e que pode até
causar câncer. O pigmento rosa? É Colchonilla, um corante alimentício avermelhado que é obtido esmagando-se um inseto vermelho de mesmo nome.
Não
tem nada mais aconchegante do que o cheirinho de pipoca amanteigada ao
entrar no hall do cinema. Aquele cheiro antecipa todo o lazer e conforto
o que você espera das duas horas que vai passar aninhado naquela
poltrona. Pena que esse aroma tão emblemático é uma farsa. Para você ter
uma ideia, em 2011, redes de cinema norte-americanas se recusaram a
informar exatamente o que eles colocam em suas pipocas. Manteiga é cara e
existem alternativas mais baratas e que não deixam a pipoca tão murcha:
as pipocas de cinema costumam ser banhadas com óleo de soja com sabor
artificial de manteiga, além de um pouco de beta caroteno pra ajudar na
cor.
Fonte: http://revistagalileu.globo.com/Revista/Common/0,,EMI340200-17770,00-COMIDAS+FAKE+VEJA+CINCO+ALIMENTOS+QUE+NAO+SAO+O+QUE+PARECEM.html
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